CETICISMO POLÍTICO: um breve insight sobre o porquê dessa questão
- By Pedro Ferreira
- 16 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
De dois em dois anos, os brasileiros dirigem-se às urnas com o intuito de escolher seus representantes com a fé que alguma mudança social significativa poderá acontecer a partir desse ato. Contudo, para muitos é o usufruto de um direito político adquirido, já para outros acaba por ser um dever, uma obrigação ou imposição, tendo em vista o descrédito instalado quanto ao sistema político nacional e os resultados superficiais e estáticos obtidos a cada mudança de governo.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, a cada eleição o número de abstenções só aumenta, pois em 2016 o número de eleitores ausentes foi 21,6%, enquanto que em 2012 fora de 19,12%. Já nas eleições presidenciais também se percebe tal progressão, considerando que em 2010 a abstenção teve marca de 18,1%, passando para 19,4% em 2014 (TSE, 2016).
Então, quais seriam as razões para que o brasileiro cada vez mais abdique do direito de escolher seus representantes? Quais os motivos para tal ceticismo? Por que os brasileiros estão desacreditando na política?

Rua (2009, p. 18) lança um palpite:
(...) as pessoas tornam-se céticas e tendem a considerar a política (e os políticos) algo que é, por sua natureza, nocivo à sociedade. Muitas vezes, isso faz com que as pessoas prefiram se manter alheias a esse processo, como se a política não fosse parte constitutiva e essencial da vida social.
Logo, à luz da supracitada autora, percebe-se que tal diagnóstico não é tão simplista, no qual perpassa por uma discussão multifacetada acerca da própria construção e manutenção do modelo social vigente, em especial, sobre a dinâmica dos processos políticos e da salvaguarda dos princípios balizares da democracia.
O fato é que os eleitores, por meio da abstenção, sustentam um discurso de aversão ao modelo de se fazer política no Brasil, assim como à habitual ineficiência do Estado. Desse modo, o brasileiro está cansando de ver os mesmos episódios dessa "novela política", na qual entra governo, sai governo; novos nomes no cenário político surgem com discursos inflamados propondo “mil e uma mudanças”; planos e programas são anunciados com um discurso de soluções imediatistas; estruturas, empresas, pastas e outras organizações são criadas, recriadas, extintas e criadas novamente; novos normativos são instituídos; e mesmo com tudo isso, nenhuma mudança significativa é percebida pela sociedade brasileira.
A sensação é que o povo vive uma espécie de “vale a pena ver de novo”, na qual só mudam datas, locais e às vezes, nomes. Tal sentimento cria uma reflexão sobre em que estágio democrático se encontra este país quanto as devolutivas proporcionadas pelos governos à população. Dagnino (2009, p. 39) assim adverte:
Sem democracia não há participação e transparência nas decisões, não há planejamento participativo, avaliação de políticas e prestação de contas. Não há responsáveis, há impunidade. Mas a democracia, se restrita a um discurso político genérico e sem correlação com ação cotidiana de governo, pode degenerar num assembleísmo inconsequente e irresponsável e numa situação de descompromisso e ineficiência generalizada.
Por conseguinte, por tudo aqui relatado e pelos fatos cotidianos noticiados, será que já se chegou a esse estágio no qual está presente um discurso político genérico e uma ineficiência generalizada, conforme o pensamento de Dagnino (2009)? Será que tais comportamentos endossam o referido ceticismo político?
As respostas para essas questões necessitam de uma reflexão crítica extensa, que não pode ser esgotada em poucas linhas. Todavia, ela não pode ser mais procrastinada e tão pouco ser desapercebida. Talvez a omissão no processo político já seja uma reposta, embora não se saiba quais as consequências disso e se é o caminho mais eficaz para uma possível mudança. O fato é que já está em tempo de uma “ampla conscientização e mobilização política que se espera ocorrer sem maiores custos sociais, além dos que a sociedade já vem pagando” (DAGNINO, 2009, p. 31).
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